sexta-feira, 18 de novembro de 2011

REALMENTE É MINHA MISSÃO.

Hoje, dia 18/11/2011, depois de alguns meses sem alimentar meu blog, sem me informar diariamente sobre novidades e descobertas no quesito AVC, recebo um e-mail de Juliano Sanches, mestrando pela Unicamp, na área de comunicação em neurociências, e aluno de nosso respeitoso e sempre adimrável Dr. Li Li Min.

Neste e-mail, Juliano Sanches expressou um pedido do próprio Dr. Li, ou seja, uma entrevista comigo, para divulgar nos meios de comunicação, estimulando assim a atenção da população para esta catástrofe chamada AVC e também estimular meu trabalho em ajudar vítimas do AVC.

Aliás, trabalho este que seria a realização de um sonho meu, de ajudar vítimas e todos os atingidos pelo AVC. Não posso negar que até o recebimento deste e-mail, este sonho estava anestesiado e adormecido em profunda tristeza e sofrimento. AVC não é um simples acidente cerebral, ele acarreta consequências que se não saudosas como a morte, são consequências irreparáveis.

Por mais tratamentos de última geração que possam existir a esta vítima, para recuperação da fala, dos movimentos, enfim, da reabilitação, esta pessoa nunca mais será a mesma. Por trás de um corpo debilitado, sem expressão oral ou movimentos ágeis, existem pessoas dependentes e em alguns casos, conscientes desta dependencia. E a partir deste momento de dependencia, surgem consequências terríveis para o próprio paciente, a  partir deste momento sua vida muda completamente.

Imaginem uma pessoa ativa, dentro da "roda viva" da vida, e de repente é acometida por esta catástrofe. Foi o que aconteceu com minha mãe. Uma mulher extremamente independente, inteligente, adorava ler, estava diariamente informada com os acontecimentos do mundo, tinha total liberdade de ir e vir. Em questão de horas, estava em cima de uma cama, com a cabeça raspada, entubada e totalmente dependente de outras pessoas. Dependencia esta não somente física, mas também psicológica.

Alguns dias depois que foi desentubada e retirado os medicamentos de sedação, me lembro de sua única fala direcionada a mim, ela com toda sua dificuldade de expressão e eu com minha dificuldade de entendimento, consegui entende-la dizendo "estou danada", isto ocorreu durante um dos momentos de lucidez que ela teve. Isso me calou tão fundo, que até hoje me conforta nos tempos de saudade imensa. Uma mulher como ela jamais sobreviveria muito tempo dependente desta forma.

Relatei este fato, como um pequeno exemplo de como pessoas acometidas pelo AVC se sentem. Para elas é tenebroso aceitar este novo fato na vida, e é neste exato momento que precisamos ajudar ainda mais estes pacientes. Mas com minha experiência, posso afirmar, é tenebroso para eles, vítimas, mas nós, pessoas que amamos e acompanhamos estas vítimas, também é terrível.

Ahhh a espera! a espera por notícias, a espera por exames, a espera por resultados positivos em novos medicamentos, a espera por uma boa evolução do quadro clínico. Quantas esperas! e quanto sofrimento causado por estas esperas! Por isso mesmo, precisamos também de ajuda para enfrentarmos tudo isso de forma firme, porém, consciente da situação.

Durante este processo escutei no hospital, "não confunda esperança com ilusão", e é exatamente assim, não podemos jamais perder a esperança, mas precisamos estar 100% cientes da real situação de nosso querido atingido pelo AVC.

Temos sim que investir tudo o que estiver ao nosso alcance na recuperação física desse paciente, fisioterapia, fonoaudiologia, neurologista, terapia ocupacional e tantos outros tratamentos existentes, mas não podemos de maneira nenhuma esquecer de cuidar da saúde mental deste. Visando o bem estar por completo, evitando por exemplo a depressão pós AVC.

Bom, espero que tenha ajudado um pouco mais todos vocês que acompanham meu blog. Este artigo foi também um desabafo de tristeza, causada pela grande falta que minha mãe faz.

Mas, depois do e-mail que recebi hoje, e todas as outras "providências" que a vida vem me mostrando, tive plena certeza, que uma das minhas missões aqui, é sim, ajudar vítimas do AVC. Não passei por esta experiência a toa, para acabar com a morte da minha mãe.

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